Hoje falo-vos de um assunto chato, nada simpático e escusado para o século em que vivemos. Posso dizer que a alimentação vegetariana trouxe muitas coisas boas. Senti-me muito melhor a nível da saúde, o blogue surgiu, o gosto pela cozinha intensificou-se e ainda comecei uma descoberta infinita de novas combinações e produtos alimentares. Esta parte vocês já conhecem.
Ao longo das publicações referimos várias vezes este sentimento bom à volta da mesa. No entanto, nem tudo é maravilhoso. A comunicação social faz-nos ter a ideia que a alimentação vegetariana é bastante acessível, glamourosa e que está em crescimento. Mas, na realidade, são inúmeras as dificuldades que encontramos e digam lá a verdade: quantas são as pessoas que vocês conhecem pessoalmente que são vegetarianas? Desde que optamos por esta alimentação que somos bombardeadas de questões, de comentários, de piadas e até de críticas.
Perguntas como “mas não sentem falta de nada? Como é que conseguem? Isso deve ser horrível! Ai eu não conseguia. E o marisco? E o frango? ah mas o peixe é saudável! Mas engordaste? Emagreceste? Mas afinal o que é que comem? Tem ali erva no pasto para comerem. Olha não fiz comida para vocês porque não sei o que é que comem. Porque é que são vegetarianas? Têm pena dos animais? Mas ouvi dizer que as plantas também sofrem.. E ovos comem? É que eles também vêm das galinhas. Não comem? Ainda bem, mais sobra. Mas não vão salvar o mundo sozinhas… Estou para ver quanto tempo isso dura.”
Quem me conhece, a mim e às minhas irmãs, sabe que somos umas “paz de alma”, muito passivas e calmas, mas às vezes não é fácil lidar com estes comentários, que se repetem e repetem, sem fim… Estas perguntas são, na maior parte das vezes, feitas com um tom de indignação, julgamento, gozo ou pena. Somos bastante recetivas a ter uma conversa a título de curiosidade sobre esta alimentação, quando realmente existe um interesse sincero sem pensamentos negativos por trás.
Quando nos tornamos vegetarianas não tínhamos noção que este tema ainda era tão sensível na sociedade, e tema para discussão em todos os jantares. Pensávamos que já era mais aceite e compreendido. Nunca fomos pessoas de chatear os nossos amigos ou familiares com o que comem ou deixam de comer, aliás, ainda hoje não temos a intenção de convencer ninguém a ser vegetariano.
Como já dissemos várias vezes, cada um tem de encontrar a alimentação que considera mais plena não só ao nível do paladar, mas também da consciência. Há uns bons passados anos, quando ainda não era vegetariana, uma amiga almoçou comigo e quando íamos a pedir o almoço, ela disse: “Sou vegetariana, por isso vou optar por outro prato”. Para mim não foi assunto, pedimos pratos diferentes, sem termos falado mais sobre isso. Não sabia porque é que era, mas também não perguntei. Não me achei no direito de estar a questionar as suas escolhas alimentares, nem me passou tal pela cabeça, para ser sincera.
Partilho este desabafo com vocês por achar que realmente é importante abordar estes assuntos, vejo muitas pessoas que acabam por ter medo de assumir o dito “rótulo” ou têm vontade de voltar à dita “normalidade” só para deixarem de ser assunto, ou alvo de atenção nos jantares. Está na altura de aceitar que as pessoas não são todas iguais, não gostam todas do mesmo. E isso é bonito, são as diferenças que nos tornam especiais e únicos. Não tentem mudar isso.
/Xana